26 de outubro de 2009

Whatever Works



“Whatever love you can get and give, whatever happiness you can filch or provide, every temporary measure of grace, whatever works.”
É uma das frases do último filme realizado pelo Woody Allen. E não é que faz sentido? O que resultar connosco é o melhor para nós.
Às vezes pensamos ou julgamos uma coisa e sai outra. Julgamos que estamos a fazer o melhor e não estamos. Julgamos que se fizermos isto ou aquilo seremos felizes. Julgamos que o problema é das pessoas que nos rodeiam, do mundo, do emprego, da taxa euribor, mas não. O verdadeiro problema parte sempre de nós, do nosso íntimo. Se não estamos bem connosco, não estaremos bem com ninguém. Por isso, temos de tirar partido do bem que temos, de todas as coisas/pessoas que nos fazem bem ou minimamente felizes, não desperdiçar o positivo para realçar o negativo.
Estou curiosa para saber qual a tradução que a nossa “indústria cinematográfica” irá dar a este título. Até estou a ver a acender e a apagar: “O Que Trabalhar”. Ainda as pessoas vão julgar que é um documentário sobre Marx. Ou um compacto do “Querido, mudei a casa”.
Dos últimos filmes que vi do Woody (posso tratá-lo assim porque conheço-o desde pequena), este é o que mais se assemelha ao “good old Woody Allen”.
Primeiro passa-se em Nova Iorque. Qual Londres ou saloios britânicos, qual Barcelona, Oviedo ou discussões com castanholas, isto sim. Deixou-se do provincianismo da Europa e voltou à Grande Maçã. Era o velho continente que estava a estragar-lhe os filmes.
E volta aos seus diálogos interessantes, filosóficos, complexos e complexados, sobre a condição humana e as suas vertentes mais intrincadas: amor, vida, existência, coexistência.
Destaco as três personagens: o homem que coloca tudo em causa e refugia-se em si mesmo, repudiando tudo e todos; a rapariga que sabe que nada sabe mas que tem sede de sabedoria; e a mãe dela que chega como se fizesse parte do cântico “Alegrem-se os Céus e a terra…” e acaba… Não vos digo com que banda sonora senão perderia o interesse. Mas adianto que não é com a da “Música no Coração”.
O homem é interpretado por um actor praticamente desconhecido para mim, o Larry David. A rapariga só a tinha visualizado no filme “13” e nas notícias “rosa choque”, pois é a namorada do cantor Marilyn Manson. E a “mãe” é representada pela fantástica Patricia Clarkson que, para quem já viu outros desempenhos dela, sabe que dispensa adjectivos.
No cômputo geral, o filme não é uma obra de arte mas tem o cunho do Woody dos 80’s, o que já é uma boa nova.
Sou tão cinéfila-crítico-intelectual (é uma palavra/conceito novo que acabei de inventar) como o meu vizinho do lado mas gosto muito de opinar.
Bem, sou um pouco mais cinéfila do que o meu vizinho do lado. Acho que o último filme que viu foi... uma telenovela.


24 de outubro de 2009

Na senda do último texto


Na passada sexta-feira, em mais um dia de intensa labuta, ao necessitar de consultar a “compilação” do Diário da República de Fevereiro de 1994, os meus olhos passaram por este Despacho Normativo e achei-o muito divertido.
Primeiro, só se lembram de Santa Bárbara quando faz trovoada. Ou seja, Lisboa ia ser a capital europeia da cultura naquele ano e pensaram: “O que é que é castiço e poderá dar dinheiro? Hum… As ruas todas porcas ‘since 1143’ tem piada, a desorganização organizada também é ‘very typical’, mas sem ser isso e a comezaina onde é que vamos arranjar dinheiro que continue a entrar mesmo depois da capital europeia da cultura? É que os museus só dão nessa altura e como o merchandise das lojas é ridículo não nos safamos por aí. Hum… Já sei! Vamos endividar as casas de fado. Estão tão desesperados que aceitam concerteza.”
E assim “saiu” este Despacho, bem despachadinho.
Primeiro o elogio às casas de fado e ao fado enquanto expressão musical de um povo, e depois o “sacudir a água do capote” em relação ao estado económico em que se encontram as casas de fado. Culpa da má gestão das mesmas, decerto.
Depois quase são sinceros. Afirmam que não dá jeito nenhum as casas de fado irem à falência naquela altura. Logo a seguir, tudo bem, mas naquele momento não.
Assim, vamos emprestar dinheiro, e vocês, cândidos, ficam todos contentes por nos prestarem o serviço e ainda ficarem devedores.
E ainda tinham de satisfazer os requisitos a), b), c) e d) do art. 3º. Ora se estivessem enquadrados nessas alíneas, provavelmente não precisariam do empréstimo.
Mas o art. 4º, na alínea a) é mesmo hilariante. Promover a exibição diária de sessões de fado? Acho que não tivemos turistas suficientes para isso. Até estou a ver o patrão da casa de fado a convidar os familiares dos funcionários e a calçar-lhes umas sandálias com umas peúgas brancas para fingirem que eram turistas.
É claro que eles estariam a pensar nos clubes de fado, nas grandes casas de fado. Não acredito que visassem as típicas casas de fado, onde o fado é castiço e até cantado por quem chega  com vontade de “dar de beber à dor”.
Não consigo imaginar uma casa de faduncho de Alfama, perdida nas vielas, receber 15 mil contos para “incentivo” ao negócio, sendo que o intuito do estado não era ajudar mas ser ajudado. Como é que uma casa dessas conseguiria aumentar um terço do capital emprestado no prazo de 6 meses?!

Isto “quem nasce malfadado, melhor fado não terá”.

22 de outubro de 2009

Devir



Vai surgir uma nova fadista chamada Joaldina Mafananinho Mournauth Amenduarte. Isto só é possível graças à evolução científica portuguesa que conseguiu clonar 5 fadistas em uma. Passo a explicar. Na tentativa de encontrar uma nova Amália, e dado que as últimas tentativas têm saído goradas, os mais altos cérebros ligados à música portuguesa em geral, e ao fado em particular, lembraram-se de fazer, quiçá, uma derradeira tentativa.
Isto porque, depois deste ano de homenagens à Amália, só lhes restará a hipótese do fado ser considerado património mundial, para conseguirem ganhar mais uns cobres.
Com estas homenagens (completamente devidas e justificadas) à nossa fadista/ícone pop/diva/bestseller/actriz/modelo/cançonetista estafaram de uma vez tudo o que podiam “vender” sobre Amália.
E agora? Só temos esta fadista em Portugal. É uma pena.
Ah, não, esperem! Do antigamente só temos a Amália mas no presente temos imensas “quero ser como a Amália mas não tenho voz, presença, carisma, nem alma que me ajude”.
Assim, juntaram a Joana, a Aldina, a Mafalda, a Ana e a Carminho. Também se lembraram da Mariza mas o clone ficaria muito alto e a mulher portuguesa/fadista é pequenina (por tradição). Além disso, já há para ali vozes roucas de bagaceira que cheguem.
Assim, aproveitaram o que cada uma tem de melhor: energia, simpatia, ar de desgraçada, bons contactos, conhecimentos internacionais e cunhas (pronto, pronto, há uma ou outra que tem voz para conseguir cantar um faduncho), et voilá!
Como devem calcular, a nível físico a fadista ficou um pouco estranha mas nada que não tenha solução. Lembraram-se dos concertos dos Gorillaz e assim até ajuda à mística do fado (não temos? então pode ser um copinho de branco).
A imagem da fadista será como uma aguarela do movimento Der Blaue Reiter (o escolhido foi Klee).
Ora, com tanta fadista de êxito numa só, com uma imagem moderno-virtual e fados(?) com músicas e letras estrondosas (do regalengo de cada uma), só pode resultar num fenómeno de vendas.

Mas enquanto a "fadista" não chega vamos clonando o fado.

20 de outubro de 2009

Almosseio

Almosseio é almoço em passeio. Ou seja, a pessoa não almoça, só passeia durante a hora de almoço.
É agradável porque não se gasta dinheiro e emagrecemos. Além de que ficamos sempre a conhecer mais um recanto delicioso da nossa cidade, um pormenor centenário que nunca tínhamos visto, uma senhora a assar sardinhas no meio das escadas públicas (mas que para ela é como se estivesse na sua cozinha), etc.
Mais uma vez, peço desculpa pela qualidade das fotos mas continua a ser o telemóvel a minha câmara indiscreta.

Largo do Trigueiro

Alfama

 
Típica janela de Alfama



Mais um painel de azulejos recuperado


Emparedados

 
R. dos Bacalhoeiros

18 de outubro de 2009

Com Franqueza

Sexta-feira, 16 de Outubro de 2009, 20h.
A Júlia florista fazia anos e já devia estar em casa dela para jantar com o resto do “rancho”.
Mas não. Onde estava eu? A fazer que figura?
Imaginem que estava numa esquina de uma rua de Moscavide, noite cerrada, com um ramo de orquídeas na mão, uma malinha a tiracolo, com imensa malta gira a passar, e à espera de um colega meu que tinha ido buscar um jogo novo ao toy’r’us mais próximo.
E o meu pai à minha espera no Parque das Nações para me dar boleia para a casa da mãe dele que, por coincidência, é a minha avó.
20h30m. O meu pai à espera há 45m, a minha avó e o resto dos convivas à espera há meia hora.
“Julinha, desculpa, atrasei-me, mas vamos já para aí.”
“Anda, xóxó, a comida está a arrefecer e sabes que requentada não tem gracinha nenhuma.”
E eu ainda em casa do meu colega em Moscavide. Já agora tinha de experimentar o jogo para ver se funcionava em condições. Estava óptimo.
Como bom colega, insistiu em levar-me a pé de Moscavide até ao Parque das Nações (também é um sem-carro). Voámos em 10m de um local para o outro e lá estava o meu pai “y su muchacha” à minha espera, pacientemente.
Chegámos às 21h10m a casa da avó.
Estavam todos bem dispostos como é apanágio da minha família. Nem que eu tivesse chegado à meia-noite, estariam sempre com um sorriso, de braços abertos e lábios esticados para mim.
Em relação ao repasto…
As entradas já tinham saído.
A carne antes do bife já tinha os cogumelos tatuados nela. Acho que li mesmo num “amor de mãe”.
As batatas fritas não eram supostamente batata palha mas naquela altura já faziam parte do anúncio do “Feno de Portugal”.
O vinho estava bom...
Segue-se o famoso arroz doce com desenhos feitos a canela, pela Julinha. Os motivos são sempre flores e corações. Minha querida…
Uma salada de frutas na maior terrina que possam imaginar, com os pêssegos a fazerem par com as rodelas de ananás.
E antes do apagar das velas do bolo de aniversário uma acesa discussão sobre o estado da nação, “os comunas”, os “chuchas”, “os corruptos”, e “que falta fazia um Salazar”.

Posto isto, mais um jantar bem passado com as bochechinhas mais queridas do planeta e arredores.

Uma casa portuguesa concerteza







Lamento a má qualidade das fotos mas com um telemóvel não se consegue fazer melhor. E também não sou grande artista a colocar fotos no blogue.

16 de outubro de 2009

Parabéns, Júlia florista!

Há momentos na nossa vida que temos de fazer uma introspecção, uma análise, um balanço.
Seja do que já vivemos vs. o que queremos viver, seja das alegrias vs. tristezas, seja das boas acções vs. as más, seja do que fizemos vs. o que não devíamos ter feito.
Não me arrependo das coisas boas que fiz, independentemente de ter tido o efeito desejado ou não.
Aliás, não me arrependo dos esforços todos que fiz em prol de mim mesma ou de outrem.
Arrependo-me de ter tido más acções, más palavras, precipitações, possessões, complicações, ter ligado a pormenores estúpidos sem qualquer valor.
Arrependo-me de não ter sido mais “leve” em alguns momentos, de não ter só usufruído do momento, sem pensar, sem raciocinar.
Arrependo-me de algumas/muitas coisas, mas nunca de ter dado tudo o que tinha pelo que acreditava, de ter lutado pelo que sentia, de ter lutado por quem queria.
Quando o que sentimos é puro, verdadeiro, nada do que fazemos é inútil ou alvo de arrependimento.
Podemos arrependermo-nos de algo que fizemos ou deixámos de fazer, mas só a morte é que não tem emenda. Enquanto vivemos, temos sempre a hipótese de voltar atrás, de “reparar” o erro, de termos uma segunda oportunidade seja no que for. Normalmente, a vida, as pessoas, as coisas, dão-nos esse segundo “fôlego”.

O que me leva a pensar nos 84 anos que a minha avó faz hoje.
Uau! Tantos anos para reflectir, para fazer o balancete, para “pesar” o bom e o mau de uma vida.
Concerteza, a minha avó pensará nisso. Embora seja uma pessoa alegre, sei que tem as suas tristezas de alma, as suas saudades, mas não sei se terá arrependimentos.
Penso que as decisões difíceis que terá tomado durante a vida, as escolhas face às opções, não a terão traído (pelo menos, completamente).
A vida não foi sempre um mar de rosas para ela, e mesmo se fosse, já se sabe que não há rosa sem espinhos. Como costuma dizer-me uma senhora minha conhecida: a vida é bela nós é que damos cabo dela.
Sem dúvida que as nossas opções tornam a nossa vida melhor ou pior, e raramente nos apercebemos no instante da decisão, ou nos momentos seguintes.
Conforme a Alegoria da Alma de Platão nos exemplifica, temos em nós um cavalo preto e um cavalo branco. A nossa alma, carácter, é o cocheiro. Nós é que direccionamos as coisas, o Caminho. Nós é que temos de controlar o nosso cavalo preto, negro, obscuro. Nós é que temos de escolher o sentido da vida, das escolhas, do que nos fará chegar a qualquer coisa semelhante à felicidade.
No cômputo geral, penso que a Júlia florista comandou bem os seus cavalos, embora só ela o possa confirmar.
Pelo menos, tem uma pequena pónei que a adora!

15 de outubro de 2009

Sem fantasia - Chico e Bethânia



Vem, meu menino vadio, vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia, que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos, vou te envolver nos cabelos,
Vem perder-te em meus braços pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco, vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer que o instante de te ver custou tanto penar
Não vou me arrepender, só vim te convencer que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar, eu quero te contar das chuvas que apanhei
Das noites que varei no escuro a te buscar
Eu quero te mostrar as marcas que ganhei nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus, e agora que cheguei eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus

Estava a tentar evitar colocar este vídeo no meu blog mas foi irresistível.
Eu sei que não tem nada a ver com o resto mas a letra é fantástica e estes dois da mpb são qualquer coisa.
Identifico-me essencialmente na parte cantada pelo Chico.
Entre as noites que varei e as discussões com Deus...

Piedade, meu Deus



Bach - "Erbarme dich, mein Gott" - "Matthäus-Passion" BMV 244 - Magdalena Kozena

Vou começar por gabar-me de ter estado lado a lado com a estátua de Bach, em Leipzig, e ter visitado a casa dele. Na altura, ele não estava em casa.
E também fui visitar a igreja de S. Tomás onde Bach "estreou" a sua "Paixão segundo S. Mateus". Lindíssima!

14 de outubro de 2009

Haar

Ontem, faltou-me a água.
Já me tinha faltado o ar, a alegria, o sono, o apetite... Ontem foi a água.
Liguei para entidade reguladora e atendeu-me uma senhora muito enfadada a dizer um "siiiiiim..." daqueles muito longos, como que a fazer-me entender que eu era a enésima cliente a ligar para dizer o óbvio.
O piquete já vinha a caminho. Óptimo! Se for como o piquete da luz, quando vier a água já não me lembro do meu nome.
Não foi assim mas foi quase. E não se pode chamar água corrente ao que obtive mas água engasgada com os despojos de uma aula de trabalhos manuais, sobre trabalhar no barro, a correr pelo cano.
Bem, lá me lavei à gato (foi mais à suíno mesmo) mas ao chegar à parte da lavagem do couro cabeludo, aí é que a porca torceu o apêndice caudal.
Resolvi que o meu cabelo aguentaria mais uma noite e um dia, apenas tinha de evitar suar.
Hoje, na minha hora de almoço, achei que já chegava de perguntas sobre se tinha colocado gel no cabelo.
Assim, fui à cabeleireira em frente ao meu local de trabalho (à qual nunca tinha ido) e pedi para lavarem e secarem o mais natural possível.
A lavagem correu bem, embora em determinada altura tivesse pensado que a senhora queria lavar a minha alma também. Eu agradecer-lhe-ia mas a única coisa que ia conseguindo era ficar sem escalpe. Mas mariquices à parte, lá fomos nós para o secador.
Bem lhe expliquei que o meu cabelo tem personalidade própria e blá, blá, blá, mas resolveu que queria "enrolar". Depois de estar quase com três escovas de brush, mise ou qualquer coisa assim, na cabeça, chamou uma colega e mostrou-lhe o que é um cabelo liso. Em pouco tempo, já tinha três cabeleireiras a comentarem que nunca tinham visto um cabelo assim tão liso, forte, espetado e sem jeitinhos. Perguntaram-me se eu era portuguesa. E eu, orgulhosa, disse: "não só portuguesa como alfacinha".
Bem, em jeito de conclusão, posso dar uma ideia de como estava se conseguirem visualizar o cabelo esticado, e naturalíssimo, da Aretha Franklin num videoclip do George Michael.
E a seguir tinha de ir trabalhar...

13 de outubro de 2009

Em tua homenagem MLSCMA



Gounod - "Ave Maria" (Kathleen Battle)

Obrigada por tudo o que me ofereceste, por tudo que fizeste por mim, o amor que me deste, a forma como me moldaste.
Sempre contigo/comigo!

Bach - Prelude Cello Suite nº. 1 (Rostropovich)



Mestre Rostropovich, eu vos saúdo!

12 de outubro de 2009

Sinfonia nº 5 - Adagietto - Mahler



Sem comentários. As palavras são irrelevantes com uma melodia que vem da alma.

10 de outubro de 2009

Bilhete da Felicidade



 Já sei qual é a tradução para aquela frase célebre do filme «Casablanca», "We will always have Paris":

"Havemos de ir a Viana"

8 de outubro de 2009

Sara Scuderi - As árvores morrem de pé



Daniel Schmid também deve ter sido criado por três senhoras idosas...
O que ele "realiza" neste documentário sobre Sara Scuderi não se faz. Principalmente, para quem gosta de idosos como eu. Foi até ao lar onde a senhora "residia" e fez com que ela representasse uma ária da Tosca e uma ária do Rigoletto. De seguida, a soprano ouve-se a si própria in illo tempore, em 1928 (na altura com 31 anos). Nesta altura, Sara Scuderi tinha 87 anos e faleceu 3 anos depois.
Bravíssima!

Alison Moyet - "Lamento de Dido" - H. Purcell



Muito obrigada a quem me fez recordar a Alison Moyet da melhor maneira. Esta ária lindíssima de Purcell parece que fica bem de qualquer maneira.

Amália



Lágrima - Amália Rodrigues

Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto

Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar


Sendo eu uma amante de fado, não poderia deixar passar a oportunidade de fazer uma insignificante homenagem à minha fadista preferida.
Alerto para o facto de a Amália ser a minha fadista preferida porque, além de cantar com a alma até mais do que com o coração, era uma mulher inteligente, sagaz, lutadora, audaz, que não se deixava dormir à sombra das centenas de louros já conquistados mas procurava sempre mais e melhor, com uma sede de conhecimento e sentimentos que pareciam jamais satisfeitos; e não por ser a única fadista que conheço, como acontece a algumas centenas de “fãs” de fado.
Parece-me também que procurou o amor durante toda a vida. Poderá ter encontrado paixões mas parece que nunca encontrou o Amor. Ou o Amor nunca a encontrou. Mas isso já são fantasias do meu imaginário.
Este fado que aqui coloco, não será o meu favorito da Amália mas ilustra muitas coisas com as quais me identifico de momento. Muitas, mas não todas.
Na 1ª estrofe, a nossa primeira sensação será que a Amália estaria numa capoeira (penas e mais penas). Com essa parte não me identifico. Nem com a hipótese da capoeira, nem com a hipótese de auto comiseração. Julgo que poderá ser o pior sentimento a termos de nós próprios. Reduz-nos logo a seres fracos, medíocres, e dos fracos não reza a história. Quanto ao “jeito” de lhe querer tanto, os “endireitas” servem para quê?
Na 2ª estrofe, identifico-me com o desespero, com um grande castigo, mas ainda não cheguei à parte de dizer que não quero e não sonho com a pessoa amada porque não tenho dormido o suficiente para isso.
Na 3ª estrofe, estou quase a 100% com a Amália menos a parte do xaile. No meu caso seria mais uma mantinha e adormecer no sofá depois de esgotada de líquidos e já sem saco lacrimal.
Na 4ª e última estrofe, ainda não estou nesse nível. Espero nunca chegar a esse nível de desespero. Se eu amo a pessoa e quero estar com ela, de que me serve a lágrima dela depois de eu estar morta? Mais uma achega à piedade, desta vez à piedade de outrem.
Lágrimas da pessoa amada… Só de alegria!

7 de outubro de 2009

Espera...



Não percebo como é que o tango com letras em espanhol e uma "sanfona" não é uma música pimba. Mas, antes pelo contrário, é uma música sensual. É o fado dos argentinos.

6 de outubro de 2009

"Sarabande" - Handel



Este "Sarabande" soa-me a qual fénix que procura reunir as cinzas para depois renascer. As cinzas ainda estão muito esparsas ao vento. Neste momento, estão mais a entrarem-me para os olhos do que a reunirem-se.
Mas... Se a "Lacrimosa" é uma ode à despedida, o "Sarabande" é um convite à vida, ao ressuscitar da alma.

5 de outubro de 2009

"Lacrimosa" - Requiem - Mozart



Impossível ficar impassível ao "celebrarmos" a missa dos mortos com Mozart nesta Lacrimosa. Quase que também encomendamos a nossa alma ao ouvir este Requiem.
Consegue-se sentir que é uma ode à despedida.
Uma despedida do efémero pelo que nos transcende. Um adeus ao perceptível pelo inatingível. Um abraçar do infinito pelo fim do mortal, do perecível.

E lucevan le stelle - Tosca - Puccini



E luziam as estrelas...
Devem estar a pensar "lá vem esta com mais uma estória de amor desgraçadinho...".
Pois enganam-se. Aproveito esta ária lindíssima da Tosca para vos falar de astronomia.
As estrelas também morrem: "As estrelas de massa mais elevada morrem de uma forma mais espectacular. Depois de passarem por uma fase de supergigantes, morrem com uma explosão catastrófica capaz de produzir tanta luz como uma galáxia inteira. No centro da explosão poder-se-á formar uma estrela de neutrões ou um buraco negro."
Ora aí está. Depois de as mais belas estrelas iluminarem a nossa vida, transformam-se num buraco negro. Sem vida, sem luz, sem calor, apenas a bruma fria.
Fica a recordação de uma luz tão intensa que mal conseguíamos ver o resto do universo, um calor que emanava da alegria que traziam, uma vida que nos fazia sentir uma estrela.

3 de outubro de 2009

Excerto Iniciático

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos de coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Sophia de Melo Breyner Anderson


Tendo a ousadia e a falta de humildade suficiente para pegar neste excerto e comentá-lo, tenho de dizer que, por mais que custe, é tudo verdade.
Como é que queremos fazer de deuses e pensar que as pessoas nos podem pertencer?!
Como é que julgamos que uma pessoa pode ser rotulada como "a minha amada" ou "a minha..." qualquer coisa?! Cada pessoa pertence-se. Podemos sempre amá-la mas nunca conquistá-la como se fosse um feudo.

Nós não possuímos os sentimentos, é algo etéreo. É algo que sentimos, mas não apalpamos, não desenhamos, não fotografamos.
As únicas coisas que podemos reclamar como nossas são as recordações, os momentos vividos.

2 de outubro de 2009

A morte para os tristes é ventura

Quem se vê maltratado e combatido,
Pelas cruéis angústias da indigência.
Quem sofre de inimigos a violência,
Quem geme de tiranos oprimido.

Quem não pode, ultrajado e perseguido,
Achar nos Céus ou nos mortais clemência,
Quem chora finalmente a dura ausência,
De um bem que para sempre está perdido,

Folgará de viver, quando não passa,
Nem um momento em paz, quando a amargura
O coração lhe arranca e despedaça?

Ah! Só deve agradar-lhe a sepultura,
Que a vida para os tristes é desgraça,
A morte para os tristes é ventura.

Bocage


1 de outubro de 2009

Der Anfang

Supostamente, tudo tem um início, um meio e um fim.
Algumas coisas parece que se iniciam a meio e outras que começam no fim.
Seja como for, seja qual for o nosso fado, sejamos bafejados pela sorte da sina ou malfadados pelas aziagas estrelas, cada um de nós tem um percurso a cumprir.
Maior ou menor, com mais ou menos grilhões, com "mais penas ao levantar ou ao deitar", temos de caminhar de cabeça levantada até que o nosso destino seja cumprido.
Este blogue não tem pretensões a nada, não tem tema nem objectivo. A autora escreve e publica o que lhe vai na alma, o que gosta e lhe apetece, critica o que não gosta sem piedade nem concessões, e espera que a meio deste blogue lhe possa mudar o nome.