11 de novembro de 2009

Pessoa conhece pessoa



Não. Não vou falar do Fernando Pessoa. Poderia ser um post muito bem elaborado em que apresentaria Fernando Pessoa aos seus vários heterónimos e falaria da poesia e prosa de cada um, blá, blá, blá.
Mas não. O tema é bem mais mundano.
Falo de sites onde pessoas conhecem pessoas.
Nunca tive problemas em conhecer pessoas pessoalmente, ao vivo e a cores, e cativá-las. Modéstia à parte, claro. Até julgo que é, para mim, bem mais benéfico esse tipo de “apresentação” do que a virtual.
Na virtual, falta-nos expressão, brilho no olhar, um sorriso malicioso, um acento nas palavras pronunciadas, um não sei quê que se perde no meio do teclado. Mesmo uma ideia gira perde-se e-n-q-u-a-n-t-o e-s-t-a-m-o-s a… O que é que eu ia a dizer? Um pensamento escorreito tão giro e diluiu-se após a vigésima tecla.
Mas há que aderir aos tempos modernos e, para ser sincera, já não tenho paciência para fazer passerelle nos bares e disco’s.
O objectivo é sempre conhecer pessoas interessantes com quem possamos conversar, trocar ideias, quiçá ter algo parecido a uma amizade. Quer dizer, o meu objectivo. Mas nem sempre as coisas correm como planeado. Nem em relação aos objectivos traçados, nem à troca de ideias e muito menos às pessoas interessantes.
Onde é que se meteram as pessoas com mentes giras? Morreram? Reformaram-se? Ainda não nasceram?
Não quero ser ETA (Extremista com Todas as Almas), mas a verdade é que pessoas espirituosas e minimamente cultas (reparem no minimamente), com sentido de humor refinado e não boçal, sem utilizarem expressões completamente corriqueiras, e que saibam falar/escrever na língua mãe, são uma raridade.
Ultrapassando essa parte, que para mim é mesmo a mais importante, vem a fase visual.
Por favor, não é por terem um perfil com fotos em que aparecem como vieram ao mundo (tirando a parte do sangue e da placenta) que alguém como eu ficará interessada.
Hum… Espera lá, se calhar só eu é que penso assim. Se metade dos frequentadores utilizam essa estratégia é porque deve dar resultado.
E como metem conversa: “Olá, como é que te chamas?” Como é que me chamo? Se quisesse que qualquer pessoa que me abordasse soubesse o meu nome não usava um nick, não é?
“Olá, o que é que fazes? Trabalhas em que área?” Trabalho na área x e tenho um rendimento y. Ah, e já agora queres que te dê o meu nib? É melhor não, porque a internet é perigosa. Vou antes dar-te a minha morada para apareceres lá por casa.
Serei eu antiquada? Ou isto é mesmo estranho?
Já para não falar daquelas pessoas que enviam logo aquelas private messages a dizer “fazia-te isto e aquilo”, “olá, queres adicionar-me ao teu msn?”, “enviei-te duas fotos privadas minhas” e “ os teus olhos parecem o mapa mundo” (ok, esta última frase é simpática, sim).

6 de novembro de 2009

Spam!



Há lá coisa melhor do que, pela fresquinha, “abrir” o nosso email e aparecer uma mensagem a dizer: “Amor, estou com saudades!”?
Ah, que bom! Que delícia!
Mas tenho aqui outro mail que diz “enlarge your penis”?! Ora é difícil “alargar” o que não tenho. Deve ser engano. Basta mudar um “dot” ou um “underscore” para se enganarem no email pretendido.
E outro mail a dizer que ganhei uma viagem para Porto Seguro. Epá, hoje o dia começou bem. Está a começar o verão lá, não é? Que maçada! Lá tenho de fazer a depilação completa. Preferia um local com menos areia e mais museus. Talvez troquem.
E mais um mail a dizer que ganhei numa lotaria em que não joguei. Isto realmente há dias de sorte… Nem foi preciso jogar para me sair a lotaria. Onde é que coloquei a pequena lista das mil e uma coisas que quero comprar?
Isto é que é actividade no “inbox”… Chegou agora uma proposta de trabalho em Itália. Mais concretamente em Milano. Agora não sei o que fazer. Como é que hei-de dizer isto ao meu administrador, o Sr. Agiota? Eu sei que sou insubstituível mas terá de conformar-se. Posso sugerir-lhe que contrate duas estagiárias, com cursos superiores, a € 500. Tem é de lhes dizer que todos os anos temos um almoço de Natal pago pela empresa, para as moças se sentirem devidamente recompensadas.
Correio! Uma cigana lê-me a mão se eu encostar a dita ao meu monitor (a mão, não a cigana). Preferia que me arranjasse as unhas mas a cavalo dado não se olham os cascos.
You got mail! E querem que vá fazer um casting para ser modelito. Bem, que lisonjeio. Nunca pensei que com esta idade e esta altura me fizessem uma proposta dessas. De facto, estou mais magra… Espero que não seja necessário usar saltos altos. Não tenho grande equilíbrio e dão-me cabo da coluna.
Olha, olha, oferecem-me um curso superior por correspondência. Uau! Bem, calma, não quero ser ludibriada. Tenho de saber se é curso superior a. B. ou d. B.. Ou seja, antes de Bolonha ou depois de Bolonha. Isto é essencial. Já agora que tenha o mestrado incorporado. Então e os selos? Oferecem o curso e pagam os selos e o peso da correspondência acima das 20gramas? Hum… Cheira-me a marosca dos CTT para me sacarem dinheiro. Como não aderi aos certificados de aforro… Já não se pode confiar no Estado.
E mais dois mails! Quais serão as boas notícias desta vez? Deixa cá ver… “Excedeu o tamanho limite da caixa de correio” e “Contacte o seu administrador de sistema. Está a receber spam mails”.
Ah, então…

5 de novembro de 2009

Cockroaches from hell!




Num destes dias de primavera/verão no outono/inverno, comecei o dia laboral exactamente como habitualmente o faço (não gosto de rotinas mas caio nelas).
Depois de tomar o meu pequeno-almoço no café juntinho à porta da empresa onde faço as 7 horas diárias (sim, leram bem, 7 horas), cumprimento o porteiro, Sr. Olhavrac, e espero ser içada pelo elevador.
Abro a porta do mesmo e eis o contínuo, o Sr. Opmil. O dia não começa sem ele dizer umas patacoadas sem interesse nenhum, ao que eu sorrio e assinto como diplomata que sou. Há dias que estou tão sociável que até pronuncio umas facécias. Normalmente sobre o meu clube desportivo, porque além de ser fácil dizer umas larachas sobre o futebol que pratica é um dos “vastos” assuntos que posso conversar com o Sr. Opmil. Bem, mas este texto não tem o intuito de macular ninguém (este texto, note-se).
Assim como assim, encontro-me já a caminho dos lavabos para exercer a minha higiene oral matinal.
Não vou descrever passo a passo a minha lavagem do “teclado”, mas ao pegar no fio dental, virando-me para o espelho e deixando nas minhas costas a sanita e o bidé, sinto que estou a ser observada.
Ora isto é estranhíssimo! Além daquelas duas peças de loiça, tenho uma janela nas minhas costas mas está trancada e estou num 5º andar.
Olho para trás e nada. Estarei a ensandecer?! Não seria a coisa mais estranha deste mundo.
Bom… Nada nas mangas, nada atrás de mim… Illusion… (como diriam os Imagination dos 80’s).
Continuei pelo caminho do tártaro e próteses temporárias quando tive novamente a mesma sensação. Alguém estava a olhar para mim. Sentia uns olhos nas minhas costas. Desta vez olharia de repente para trás. E zás...
"Aaaaaaaaaaaaaaaah!!!!! Sr. Optrax! Sr. Optril! Sr, Optalidon! Sr. Opmil!" (levei um certo tempo até chamar o nome correcto).
Como bom alentejano, aguardou um bocadinho até assimilar que estavam a chamar por ele e outro bocadinho para ter vontade de se levantar da cadeira onde estava (sem ofensa para o alentejão).
Eis que, com receio de irromper pelo wc das senhoras, assomou à porta e perguntou se tinha chamado por ele.
“Sr. Opmil, baratas!! Baratas com asas!! Parecem-me das que voam. Olhe para aquele tamanhão”
Contrariando as suas origens, o Sr. Opmil não perdeu tempo com conversas e começou a esborrachá-las mesmo dentro do bidé. Não posso dizer que tenha sido uma visão bonita mas foi eficaz.
Bem sei que trabalho numa zona velha da cidade de Lisboa, que a canalização do prédio já deve ter tido os seus dias de glória, mas baratas a surgirem do ralo do bidé?! E, além do mais, todos os dias temos aqui senhoras da limpeza à antiga (como tudo o resto na empresa). Ou seja, limpam tudo ao pormenor.
O que é que falhou? O Sr. Opmil explicou-me. O bidé não é utilizado, a água não corre nos canos e as baratas são como os okupas dos prédios devolutos, mas em canos.
Então e o que fazer? Eu e as outras duas únicas senhoras que trabalham aqui vamos começar a utilizar o bidé? Cada uma traz a sua toalhinha da higiene íntima e passamos a lavar as partes pudibundas na empresa? Juntamente com as duas senhoras da limpeza já somos cinco! Já deve ser suficiente para inundarmos o habitat das baratas.
Bem, há sempre algo de positivo num problema. Imaginem que as baratas vinham da sanita!
Eu já bebo um litro e meio de água por dia. Não me peçam mais nada.

3 de novembro de 2009

Postais de Família












Os meus postais de família são poucos mas bons.
Consegui recuperar postais escritos do bisavô para a bisavó e vice-versa.
Além do postal em si ser um miminho, vou tentar que consigam ler o que está escrito nas costas dos mesmos.
Falando nisso, estou a fazer isto nessa parte do corpo da minha família mas penso que não levarão a mal.
Infelizmente, quem redigiu os postais já não se encontra entre nós (há umas décadas) e lamento imenso não ter tido a oportunidade de privar com tão gentis pessoas.
Ninguém é bom juiz em causa própria mas acredito mesmo que eram boas almas, bons corações. Pelo menos, conheci os filhos e filhas que deram mostras de terem sido amados e educados por pais excelentes.
Tive essa enorme felicidade de conviver, aprender, amar, os cachopos e cachopas que dali germinaram.
Ao todo, duas tias, dois tios e uma avó. Eram mais, mas ao meu ano de nascimento, e consequente infância, só resistiram estes cinco.
Fui abençoada em ter comigo pela minha infância, adolescência, e já adulta, duas dessas pessoas. A minha avó e a minha tia-avó.
Não há palavras suficientes que expressem o que sinto por elas, o que me ofereceram enquanto pessoa, como alimentaram a minha alma, como acarinharam o meu coração, como moldaram o meu carácter, todo o amor que me deram.
A avó ainda a “tenho”. A tia-avó já não a tenho fisicamente mas de resto nunca me abandonou. Nunca saiu da minha vida, está sempre presente no meu dia-a-dia, está presente nas minhas acções, na minha atitude perante situações difíceis. Continuo a apoiar-me nela e a relembrar os seus conselhos, as suas preocupações, a sentir a sua bondade e o seu amor incondicional.
Há 10 anos que não a abraço, que não a beijo, que me faz tanta falta. Não há um dia que passe que não me lembre da minha tia e não passam muitos sem que a lacrimeje.
Não é verdade que o tempo cura tudo. O tempo "faz-nos" resignados. Faz com que aceitemos a realidade mas não reduz a dor da perda e muito menos a saudade. Essa vai aumentando com a ausência. O que difere é que no momento a seguir à perda, sempre que pensamos nessa pessoa choramos. Com o passar do tempo, sempre que nos lembramos dessa pessoa sorrimos. Sentimos uma felicidade momentânea como se nos tivesse abraçado.
A morte não leva tudo.
Do que sentimos, do que recordamos, do que vivemos, do que tivemos, do que ficou na nossa alma, no nosso coração, a morte não leva nada.
É a nossa grande vitória sobre a cessação da vida.