3 de novembro de 2009

Postais de Família












Os meus postais de família são poucos mas bons.
Consegui recuperar postais escritos do bisavô para a bisavó e vice-versa.
Além do postal em si ser um miminho, vou tentar que consigam ler o que está escrito nas costas dos mesmos.
Falando nisso, estou a fazer isto nessa parte do corpo da minha família mas penso que não levarão a mal.
Infelizmente, quem redigiu os postais já não se encontra entre nós (há umas décadas) e lamento imenso não ter tido a oportunidade de privar com tão gentis pessoas.
Ninguém é bom juiz em causa própria mas acredito mesmo que eram boas almas, bons corações. Pelo menos, conheci os filhos e filhas que deram mostras de terem sido amados e educados por pais excelentes.
Tive essa enorme felicidade de conviver, aprender, amar, os cachopos e cachopas que dali germinaram.
Ao todo, duas tias, dois tios e uma avó. Eram mais, mas ao meu ano de nascimento, e consequente infância, só resistiram estes cinco.
Fui abençoada em ter comigo pela minha infância, adolescência, e já adulta, duas dessas pessoas. A minha avó e a minha tia-avó.
Não há palavras suficientes que expressem o que sinto por elas, o que me ofereceram enquanto pessoa, como alimentaram a minha alma, como acarinharam o meu coração, como moldaram o meu carácter, todo o amor que me deram.
A avó ainda a “tenho”. A tia-avó já não a tenho fisicamente mas de resto nunca me abandonou. Nunca saiu da minha vida, está sempre presente no meu dia-a-dia, está presente nas minhas acções, na minha atitude perante situações difíceis. Continuo a apoiar-me nela e a relembrar os seus conselhos, as suas preocupações, a sentir a sua bondade e o seu amor incondicional.
Há 10 anos que não a abraço, que não a beijo, que me faz tanta falta. Não há um dia que passe que não me lembre da minha tia e não passam muitos sem que a lacrimeje.
Não é verdade que o tempo cura tudo. O tempo "faz-nos" resignados. Faz com que aceitemos a realidade mas não reduz a dor da perda e muito menos a saudade. Essa vai aumentando com a ausência. O que difere é que no momento a seguir à perda, sempre que pensamos nessa pessoa choramos. Com o passar do tempo, sempre que nos lembramos dessa pessoa sorrimos. Sentimos uma felicidade momentânea como se nos tivesse abraçado.
A morte não leva tudo.
Do que sentimos, do que recordamos, do que vivemos, do que tivemos, do que ficou na nossa alma, no nosso coração, a morte não leva nada.
É a nossa grande vitória sobre a cessação da vida.

2 comentários:

  1. Só vivendo uma vida sem amor e vontade é que podemos considerar estarmos a viver para a morte. Penso que o que fica, após a morte de alguém querido, é o amor na ausência, a saudade eterna e as recordações. Afinal nem tudo morre, mas adquire uma forma de vida diferente, não dispensando, claro está, as angústias, o desespero e a amargura.

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  2. Curioso, D. Benta, falar em amargura. Passada a dor inicial, lembro-me de ter sentido uma grande revolta, indignação e amargura por me terem "pilhado" aquela pessoa. Quando aceitei esse "furto" na minha vida, voltei à dor e à saudade contundente.

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