29 de dezembro de 2009

Damn, Girl!!!



A Fanny Ardant (ou Ardente mesmo) esteve em Lisboa a «publicitar» o seu primeiro filme como realizadora e eu não dei por ela?!?!?!
Numb? Dumb? Blind of my mind?
Agora só me resta aguardar por 7 de Janeiro para visualizar o filme «Cinzas e Sangue» (Cendres et Sang).
Com a particularidade de ter como actriz principal a Ronit Elkabetz… Chamem-na de parva!
Como é que é possível um acontecimento destes ter-me passado ao lado? Se calhar vou ter de começar a dormir mais do que 5 horas por noite…

24 de dezembro de 2009

Feliz Natal



Após um algo longo interregno, eis-me de volta.
Uma pausa de 19 dias, não por ausência de ideias de escrita mas por ausência de «dínamo» emocional, de estaleca de alma.
Hoje, o Sr. Administrador/Patrão Agiota fez o favor de compelir-me a vir trabalhar das 9h às 12h30m. Há 10 anos que aqui pululo e nunca se tinha lembrado de pôr o pessoal a trabalhar no dia 24 de Dezembro. Mas… Fez-me um favor. Ao viajar de comboio esta manhã, ao ver as vagas marítimas quase a alcançarem a linha férrea, parece que houve uma onda que atingiu o meu cerebelo e fez-me perceber porque é que tenho andado tão desanimada, até diria mesmo inanimada.
De facto, esta altura do ano desencanta-me há quase 10 anos (não, Sr. Agiota, não tem nada a ver consigo). O encanto de outrora deu lugar ao desânimo, à saudade, à tristeza, à ansiedade para que a Criança nasça e que os reis magos cheguem a galope nos camelos, de maneira a que passe o mais rapidamente possível esta altura do ano tão «bonita».
Este ano, no entanto, tenho um bónus de felicidade. E a massa de água que salpicou a janela do comboio, onde eu assomava, despertou-me para essa alegria.
Mais uma ausência, mais um lugar vazio, mais um buraco no bombeador de sangue que com os furos que vai tendo vai perdendo o que bombear.
A nossa mente é muito engraçada e traiçoeira. Mascara as coisas, adorna a tristeza e a desilusão, faz-nos acreditar que já estamos prontos para outra pancada agridoce, que já «reconhecemos a queda, levantámos, sacudimos a poeira e demos a volta por cima», e quando já estamos muito confiantes e sorridentes… Uma estrondosa cacetada na alma como que a dizer «Down, girl!».
Este sentimento não trata de «reviver o passado em Brideshead», não significa vontade de reatamento nem é sobre qualquer ilusão romanceada. É, isso sim, um sentimento de perda. Um hiato na minha «essência» enquanto Ser que não pode ser colmatada com meia dúzia de canções do Coro de Sto. Amaro de Oeiras, com duas colheres de grão, duas fatias de peru, um presépio, a estrela guia da árvore de Natal, um coscorão e dois copos de vinho (talvez com quatro copos de vinho, hum…).
É um rombo muito grande no porta-aviões dos meus sentimentos no qual o «calorzinho» natalício tem um efeito criogénico.
Dito isto…
Feliz Natal!

11 de novembro de 2009

Pessoa conhece pessoa



Não. Não vou falar do Fernando Pessoa. Poderia ser um post muito bem elaborado em que apresentaria Fernando Pessoa aos seus vários heterónimos e falaria da poesia e prosa de cada um, blá, blá, blá.
Mas não. O tema é bem mais mundano.
Falo de sites onde pessoas conhecem pessoas.
Nunca tive problemas em conhecer pessoas pessoalmente, ao vivo e a cores, e cativá-las. Modéstia à parte, claro. Até julgo que é, para mim, bem mais benéfico esse tipo de “apresentação” do que a virtual.
Na virtual, falta-nos expressão, brilho no olhar, um sorriso malicioso, um acento nas palavras pronunciadas, um não sei quê que se perde no meio do teclado. Mesmo uma ideia gira perde-se e-n-q-u-a-n-t-o e-s-t-a-m-o-s a… O que é que eu ia a dizer? Um pensamento escorreito tão giro e diluiu-se após a vigésima tecla.
Mas há que aderir aos tempos modernos e, para ser sincera, já não tenho paciência para fazer passerelle nos bares e disco’s.
O objectivo é sempre conhecer pessoas interessantes com quem possamos conversar, trocar ideias, quiçá ter algo parecido a uma amizade. Quer dizer, o meu objectivo. Mas nem sempre as coisas correm como planeado. Nem em relação aos objectivos traçados, nem à troca de ideias e muito menos às pessoas interessantes.
Onde é que se meteram as pessoas com mentes giras? Morreram? Reformaram-se? Ainda não nasceram?
Não quero ser ETA (Extremista com Todas as Almas), mas a verdade é que pessoas espirituosas e minimamente cultas (reparem no minimamente), com sentido de humor refinado e não boçal, sem utilizarem expressões completamente corriqueiras, e que saibam falar/escrever na língua mãe, são uma raridade.
Ultrapassando essa parte, que para mim é mesmo a mais importante, vem a fase visual.
Por favor, não é por terem um perfil com fotos em que aparecem como vieram ao mundo (tirando a parte do sangue e da placenta) que alguém como eu ficará interessada.
Hum… Espera lá, se calhar só eu é que penso assim. Se metade dos frequentadores utilizam essa estratégia é porque deve dar resultado.
E como metem conversa: “Olá, como é que te chamas?” Como é que me chamo? Se quisesse que qualquer pessoa que me abordasse soubesse o meu nome não usava um nick, não é?
“Olá, o que é que fazes? Trabalhas em que área?” Trabalho na área x e tenho um rendimento y. Ah, e já agora queres que te dê o meu nib? É melhor não, porque a internet é perigosa. Vou antes dar-te a minha morada para apareceres lá por casa.
Serei eu antiquada? Ou isto é mesmo estranho?
Já para não falar daquelas pessoas que enviam logo aquelas private messages a dizer “fazia-te isto e aquilo”, “olá, queres adicionar-me ao teu msn?”, “enviei-te duas fotos privadas minhas” e “ os teus olhos parecem o mapa mundo” (ok, esta última frase é simpática, sim).

6 de novembro de 2009

Spam!



Há lá coisa melhor do que, pela fresquinha, “abrir” o nosso email e aparecer uma mensagem a dizer: “Amor, estou com saudades!”?
Ah, que bom! Que delícia!
Mas tenho aqui outro mail que diz “enlarge your penis”?! Ora é difícil “alargar” o que não tenho. Deve ser engano. Basta mudar um “dot” ou um “underscore” para se enganarem no email pretendido.
E outro mail a dizer que ganhei uma viagem para Porto Seguro. Epá, hoje o dia começou bem. Está a começar o verão lá, não é? Que maçada! Lá tenho de fazer a depilação completa. Preferia um local com menos areia e mais museus. Talvez troquem.
E mais um mail a dizer que ganhei numa lotaria em que não joguei. Isto realmente há dias de sorte… Nem foi preciso jogar para me sair a lotaria. Onde é que coloquei a pequena lista das mil e uma coisas que quero comprar?
Isto é que é actividade no “inbox”… Chegou agora uma proposta de trabalho em Itália. Mais concretamente em Milano. Agora não sei o que fazer. Como é que hei-de dizer isto ao meu administrador, o Sr. Agiota? Eu sei que sou insubstituível mas terá de conformar-se. Posso sugerir-lhe que contrate duas estagiárias, com cursos superiores, a € 500. Tem é de lhes dizer que todos os anos temos um almoço de Natal pago pela empresa, para as moças se sentirem devidamente recompensadas.
Correio! Uma cigana lê-me a mão se eu encostar a dita ao meu monitor (a mão, não a cigana). Preferia que me arranjasse as unhas mas a cavalo dado não se olham os cascos.
You got mail! E querem que vá fazer um casting para ser modelito. Bem, que lisonjeio. Nunca pensei que com esta idade e esta altura me fizessem uma proposta dessas. De facto, estou mais magra… Espero que não seja necessário usar saltos altos. Não tenho grande equilíbrio e dão-me cabo da coluna.
Olha, olha, oferecem-me um curso superior por correspondência. Uau! Bem, calma, não quero ser ludibriada. Tenho de saber se é curso superior a. B. ou d. B.. Ou seja, antes de Bolonha ou depois de Bolonha. Isto é essencial. Já agora que tenha o mestrado incorporado. Então e os selos? Oferecem o curso e pagam os selos e o peso da correspondência acima das 20gramas? Hum… Cheira-me a marosca dos CTT para me sacarem dinheiro. Como não aderi aos certificados de aforro… Já não se pode confiar no Estado.
E mais dois mails! Quais serão as boas notícias desta vez? Deixa cá ver… “Excedeu o tamanho limite da caixa de correio” e “Contacte o seu administrador de sistema. Está a receber spam mails”.
Ah, então…

5 de novembro de 2009

Cockroaches from hell!




Num destes dias de primavera/verão no outono/inverno, comecei o dia laboral exactamente como habitualmente o faço (não gosto de rotinas mas caio nelas).
Depois de tomar o meu pequeno-almoço no café juntinho à porta da empresa onde faço as 7 horas diárias (sim, leram bem, 7 horas), cumprimento o porteiro, Sr. Olhavrac, e espero ser içada pelo elevador.
Abro a porta do mesmo e eis o contínuo, o Sr. Opmil. O dia não começa sem ele dizer umas patacoadas sem interesse nenhum, ao que eu sorrio e assinto como diplomata que sou. Há dias que estou tão sociável que até pronuncio umas facécias. Normalmente sobre o meu clube desportivo, porque além de ser fácil dizer umas larachas sobre o futebol que pratica é um dos “vastos” assuntos que posso conversar com o Sr. Opmil. Bem, mas este texto não tem o intuito de macular ninguém (este texto, note-se).
Assim como assim, encontro-me já a caminho dos lavabos para exercer a minha higiene oral matinal.
Não vou descrever passo a passo a minha lavagem do “teclado”, mas ao pegar no fio dental, virando-me para o espelho e deixando nas minhas costas a sanita e o bidé, sinto que estou a ser observada.
Ora isto é estranhíssimo! Além daquelas duas peças de loiça, tenho uma janela nas minhas costas mas está trancada e estou num 5º andar.
Olho para trás e nada. Estarei a ensandecer?! Não seria a coisa mais estranha deste mundo.
Bom… Nada nas mangas, nada atrás de mim… Illusion… (como diriam os Imagination dos 80’s).
Continuei pelo caminho do tártaro e próteses temporárias quando tive novamente a mesma sensação. Alguém estava a olhar para mim. Sentia uns olhos nas minhas costas. Desta vez olharia de repente para trás. E zás...
"Aaaaaaaaaaaaaaaah!!!!! Sr. Optrax! Sr. Optril! Sr, Optalidon! Sr. Opmil!" (levei um certo tempo até chamar o nome correcto).
Como bom alentejano, aguardou um bocadinho até assimilar que estavam a chamar por ele e outro bocadinho para ter vontade de se levantar da cadeira onde estava (sem ofensa para o alentejão).
Eis que, com receio de irromper pelo wc das senhoras, assomou à porta e perguntou se tinha chamado por ele.
“Sr. Opmil, baratas!! Baratas com asas!! Parecem-me das que voam. Olhe para aquele tamanhão”
Contrariando as suas origens, o Sr. Opmil não perdeu tempo com conversas e começou a esborrachá-las mesmo dentro do bidé. Não posso dizer que tenha sido uma visão bonita mas foi eficaz.
Bem sei que trabalho numa zona velha da cidade de Lisboa, que a canalização do prédio já deve ter tido os seus dias de glória, mas baratas a surgirem do ralo do bidé?! E, além do mais, todos os dias temos aqui senhoras da limpeza à antiga (como tudo o resto na empresa). Ou seja, limpam tudo ao pormenor.
O que é que falhou? O Sr. Opmil explicou-me. O bidé não é utilizado, a água não corre nos canos e as baratas são como os okupas dos prédios devolutos, mas em canos.
Então e o que fazer? Eu e as outras duas únicas senhoras que trabalham aqui vamos começar a utilizar o bidé? Cada uma traz a sua toalhinha da higiene íntima e passamos a lavar as partes pudibundas na empresa? Juntamente com as duas senhoras da limpeza já somos cinco! Já deve ser suficiente para inundarmos o habitat das baratas.
Bem, há sempre algo de positivo num problema. Imaginem que as baratas vinham da sanita!
Eu já bebo um litro e meio de água por dia. Não me peçam mais nada.

3 de novembro de 2009

Postais de Família












Os meus postais de família são poucos mas bons.
Consegui recuperar postais escritos do bisavô para a bisavó e vice-versa.
Além do postal em si ser um miminho, vou tentar que consigam ler o que está escrito nas costas dos mesmos.
Falando nisso, estou a fazer isto nessa parte do corpo da minha família mas penso que não levarão a mal.
Infelizmente, quem redigiu os postais já não se encontra entre nós (há umas décadas) e lamento imenso não ter tido a oportunidade de privar com tão gentis pessoas.
Ninguém é bom juiz em causa própria mas acredito mesmo que eram boas almas, bons corações. Pelo menos, conheci os filhos e filhas que deram mostras de terem sido amados e educados por pais excelentes.
Tive essa enorme felicidade de conviver, aprender, amar, os cachopos e cachopas que dali germinaram.
Ao todo, duas tias, dois tios e uma avó. Eram mais, mas ao meu ano de nascimento, e consequente infância, só resistiram estes cinco.
Fui abençoada em ter comigo pela minha infância, adolescência, e já adulta, duas dessas pessoas. A minha avó e a minha tia-avó.
Não há palavras suficientes que expressem o que sinto por elas, o que me ofereceram enquanto pessoa, como alimentaram a minha alma, como acarinharam o meu coração, como moldaram o meu carácter, todo o amor que me deram.
A avó ainda a “tenho”. A tia-avó já não a tenho fisicamente mas de resto nunca me abandonou. Nunca saiu da minha vida, está sempre presente no meu dia-a-dia, está presente nas minhas acções, na minha atitude perante situações difíceis. Continuo a apoiar-me nela e a relembrar os seus conselhos, as suas preocupações, a sentir a sua bondade e o seu amor incondicional.
Há 10 anos que não a abraço, que não a beijo, que me faz tanta falta. Não há um dia que passe que não me lembre da minha tia e não passam muitos sem que a lacrimeje.
Não é verdade que o tempo cura tudo. O tempo "faz-nos" resignados. Faz com que aceitemos a realidade mas não reduz a dor da perda e muito menos a saudade. Essa vai aumentando com a ausência. O que difere é que no momento a seguir à perda, sempre que pensamos nessa pessoa choramos. Com o passar do tempo, sempre que nos lembramos dessa pessoa sorrimos. Sentimos uma felicidade momentânea como se nos tivesse abraçado.
A morte não leva tudo.
Do que sentimos, do que recordamos, do que vivemos, do que tivemos, do que ficou na nossa alma, no nosso coração, a morte não leva nada.
É a nossa grande vitória sobre a cessação da vida.

26 de outubro de 2009

Whatever Works



“Whatever love you can get and give, whatever happiness you can filch or provide, every temporary measure of grace, whatever works.”
É uma das frases do último filme realizado pelo Woody Allen. E não é que faz sentido? O que resultar connosco é o melhor para nós.
Às vezes pensamos ou julgamos uma coisa e sai outra. Julgamos que estamos a fazer o melhor e não estamos. Julgamos que se fizermos isto ou aquilo seremos felizes. Julgamos que o problema é das pessoas que nos rodeiam, do mundo, do emprego, da taxa euribor, mas não. O verdadeiro problema parte sempre de nós, do nosso íntimo. Se não estamos bem connosco, não estaremos bem com ninguém. Por isso, temos de tirar partido do bem que temos, de todas as coisas/pessoas que nos fazem bem ou minimamente felizes, não desperdiçar o positivo para realçar o negativo.
Estou curiosa para saber qual a tradução que a nossa “indústria cinematográfica” irá dar a este título. Até estou a ver a acender e a apagar: “O Que Trabalhar”. Ainda as pessoas vão julgar que é um documentário sobre Marx. Ou um compacto do “Querido, mudei a casa”.
Dos últimos filmes que vi do Woody (posso tratá-lo assim porque conheço-o desde pequena), este é o que mais se assemelha ao “good old Woody Allen”.
Primeiro passa-se em Nova Iorque. Qual Londres ou saloios britânicos, qual Barcelona, Oviedo ou discussões com castanholas, isto sim. Deixou-se do provincianismo da Europa e voltou à Grande Maçã. Era o velho continente que estava a estragar-lhe os filmes.
E volta aos seus diálogos interessantes, filosóficos, complexos e complexados, sobre a condição humana e as suas vertentes mais intrincadas: amor, vida, existência, coexistência.
Destaco as três personagens: o homem que coloca tudo em causa e refugia-se em si mesmo, repudiando tudo e todos; a rapariga que sabe que nada sabe mas que tem sede de sabedoria; e a mãe dela que chega como se fizesse parte do cântico “Alegrem-se os Céus e a terra…” e acaba… Não vos digo com que banda sonora senão perderia o interesse. Mas adianto que não é com a da “Música no Coração”.
O homem é interpretado por um actor praticamente desconhecido para mim, o Larry David. A rapariga só a tinha visualizado no filme “13” e nas notícias “rosa choque”, pois é a namorada do cantor Marilyn Manson. E a “mãe” é representada pela fantástica Patricia Clarkson que, para quem já viu outros desempenhos dela, sabe que dispensa adjectivos.
No cômputo geral, o filme não é uma obra de arte mas tem o cunho do Woody dos 80’s, o que já é uma boa nova.
Sou tão cinéfila-crítico-intelectual (é uma palavra/conceito novo que acabei de inventar) como o meu vizinho do lado mas gosto muito de opinar.
Bem, sou um pouco mais cinéfila do que o meu vizinho do lado. Acho que o último filme que viu foi... uma telenovela.


24 de outubro de 2009

Na senda do último texto


Na passada sexta-feira, em mais um dia de intensa labuta, ao necessitar de consultar a “compilação” do Diário da República de Fevereiro de 1994, os meus olhos passaram por este Despacho Normativo e achei-o muito divertido.
Primeiro, só se lembram de Santa Bárbara quando faz trovoada. Ou seja, Lisboa ia ser a capital europeia da cultura naquele ano e pensaram: “O que é que é castiço e poderá dar dinheiro? Hum… As ruas todas porcas ‘since 1143’ tem piada, a desorganização organizada também é ‘very typical’, mas sem ser isso e a comezaina onde é que vamos arranjar dinheiro que continue a entrar mesmo depois da capital europeia da cultura? É que os museus só dão nessa altura e como o merchandise das lojas é ridículo não nos safamos por aí. Hum… Já sei! Vamos endividar as casas de fado. Estão tão desesperados que aceitam concerteza.”
E assim “saiu” este Despacho, bem despachadinho.
Primeiro o elogio às casas de fado e ao fado enquanto expressão musical de um povo, e depois o “sacudir a água do capote” em relação ao estado económico em que se encontram as casas de fado. Culpa da má gestão das mesmas, decerto.
Depois quase são sinceros. Afirmam que não dá jeito nenhum as casas de fado irem à falência naquela altura. Logo a seguir, tudo bem, mas naquele momento não.
Assim, vamos emprestar dinheiro, e vocês, cândidos, ficam todos contentes por nos prestarem o serviço e ainda ficarem devedores.
E ainda tinham de satisfazer os requisitos a), b), c) e d) do art. 3º. Ora se estivessem enquadrados nessas alíneas, provavelmente não precisariam do empréstimo.
Mas o art. 4º, na alínea a) é mesmo hilariante. Promover a exibição diária de sessões de fado? Acho que não tivemos turistas suficientes para isso. Até estou a ver o patrão da casa de fado a convidar os familiares dos funcionários e a calçar-lhes umas sandálias com umas peúgas brancas para fingirem que eram turistas.
É claro que eles estariam a pensar nos clubes de fado, nas grandes casas de fado. Não acredito que visassem as típicas casas de fado, onde o fado é castiço e até cantado por quem chega  com vontade de “dar de beber à dor”.
Não consigo imaginar uma casa de faduncho de Alfama, perdida nas vielas, receber 15 mil contos para “incentivo” ao negócio, sendo que o intuito do estado não era ajudar mas ser ajudado. Como é que uma casa dessas conseguiria aumentar um terço do capital emprestado no prazo de 6 meses?!

Isto “quem nasce malfadado, melhor fado não terá”.

22 de outubro de 2009

Devir



Vai surgir uma nova fadista chamada Joaldina Mafananinho Mournauth Amenduarte. Isto só é possível graças à evolução científica portuguesa que conseguiu clonar 5 fadistas em uma. Passo a explicar. Na tentativa de encontrar uma nova Amália, e dado que as últimas tentativas têm saído goradas, os mais altos cérebros ligados à música portuguesa em geral, e ao fado em particular, lembraram-se de fazer, quiçá, uma derradeira tentativa.
Isto porque, depois deste ano de homenagens à Amália, só lhes restará a hipótese do fado ser considerado património mundial, para conseguirem ganhar mais uns cobres.
Com estas homenagens (completamente devidas e justificadas) à nossa fadista/ícone pop/diva/bestseller/actriz/modelo/cançonetista estafaram de uma vez tudo o que podiam “vender” sobre Amália.
E agora? Só temos esta fadista em Portugal. É uma pena.
Ah, não, esperem! Do antigamente só temos a Amália mas no presente temos imensas “quero ser como a Amália mas não tenho voz, presença, carisma, nem alma que me ajude”.
Assim, juntaram a Joana, a Aldina, a Mafalda, a Ana e a Carminho. Também se lembraram da Mariza mas o clone ficaria muito alto e a mulher portuguesa/fadista é pequenina (por tradição). Além disso, já há para ali vozes roucas de bagaceira que cheguem.
Assim, aproveitaram o que cada uma tem de melhor: energia, simpatia, ar de desgraçada, bons contactos, conhecimentos internacionais e cunhas (pronto, pronto, há uma ou outra que tem voz para conseguir cantar um faduncho), et voilá!
Como devem calcular, a nível físico a fadista ficou um pouco estranha mas nada que não tenha solução. Lembraram-se dos concertos dos Gorillaz e assim até ajuda à mística do fado (não temos? então pode ser um copinho de branco).
A imagem da fadista será como uma aguarela do movimento Der Blaue Reiter (o escolhido foi Klee).
Ora, com tanta fadista de êxito numa só, com uma imagem moderno-virtual e fados(?) com músicas e letras estrondosas (do regalengo de cada uma), só pode resultar num fenómeno de vendas.

Mas enquanto a "fadista" não chega vamos clonando o fado.

20 de outubro de 2009

Almosseio

Almosseio é almoço em passeio. Ou seja, a pessoa não almoça, só passeia durante a hora de almoço.
É agradável porque não se gasta dinheiro e emagrecemos. Além de que ficamos sempre a conhecer mais um recanto delicioso da nossa cidade, um pormenor centenário que nunca tínhamos visto, uma senhora a assar sardinhas no meio das escadas públicas (mas que para ela é como se estivesse na sua cozinha), etc.
Mais uma vez, peço desculpa pela qualidade das fotos mas continua a ser o telemóvel a minha câmara indiscreta.

Largo do Trigueiro

Alfama

 
Típica janela de Alfama



Mais um painel de azulejos recuperado


Emparedados

 
R. dos Bacalhoeiros

18 de outubro de 2009

Com Franqueza

Sexta-feira, 16 de Outubro de 2009, 20h.
A Júlia florista fazia anos e já devia estar em casa dela para jantar com o resto do “rancho”.
Mas não. Onde estava eu? A fazer que figura?
Imaginem que estava numa esquina de uma rua de Moscavide, noite cerrada, com um ramo de orquídeas na mão, uma malinha a tiracolo, com imensa malta gira a passar, e à espera de um colega meu que tinha ido buscar um jogo novo ao toy’r’us mais próximo.
E o meu pai à minha espera no Parque das Nações para me dar boleia para a casa da mãe dele que, por coincidência, é a minha avó.
20h30m. O meu pai à espera há 45m, a minha avó e o resto dos convivas à espera há meia hora.
“Julinha, desculpa, atrasei-me, mas vamos já para aí.”
“Anda, xóxó, a comida está a arrefecer e sabes que requentada não tem gracinha nenhuma.”
E eu ainda em casa do meu colega em Moscavide. Já agora tinha de experimentar o jogo para ver se funcionava em condições. Estava óptimo.
Como bom colega, insistiu em levar-me a pé de Moscavide até ao Parque das Nações (também é um sem-carro). Voámos em 10m de um local para o outro e lá estava o meu pai “y su muchacha” à minha espera, pacientemente.
Chegámos às 21h10m a casa da avó.
Estavam todos bem dispostos como é apanágio da minha família. Nem que eu tivesse chegado à meia-noite, estariam sempre com um sorriso, de braços abertos e lábios esticados para mim.
Em relação ao repasto…
As entradas já tinham saído.
A carne antes do bife já tinha os cogumelos tatuados nela. Acho que li mesmo num “amor de mãe”.
As batatas fritas não eram supostamente batata palha mas naquela altura já faziam parte do anúncio do “Feno de Portugal”.
O vinho estava bom...
Segue-se o famoso arroz doce com desenhos feitos a canela, pela Julinha. Os motivos são sempre flores e corações. Minha querida…
Uma salada de frutas na maior terrina que possam imaginar, com os pêssegos a fazerem par com as rodelas de ananás.
E antes do apagar das velas do bolo de aniversário uma acesa discussão sobre o estado da nação, “os comunas”, os “chuchas”, “os corruptos”, e “que falta fazia um Salazar”.

Posto isto, mais um jantar bem passado com as bochechinhas mais queridas do planeta e arredores.

Uma casa portuguesa concerteza







Lamento a má qualidade das fotos mas com um telemóvel não se consegue fazer melhor. E também não sou grande artista a colocar fotos no blogue.

16 de outubro de 2009

Parabéns, Júlia florista!

Há momentos na nossa vida que temos de fazer uma introspecção, uma análise, um balanço.
Seja do que já vivemos vs. o que queremos viver, seja das alegrias vs. tristezas, seja das boas acções vs. as más, seja do que fizemos vs. o que não devíamos ter feito.
Não me arrependo das coisas boas que fiz, independentemente de ter tido o efeito desejado ou não.
Aliás, não me arrependo dos esforços todos que fiz em prol de mim mesma ou de outrem.
Arrependo-me de ter tido más acções, más palavras, precipitações, possessões, complicações, ter ligado a pormenores estúpidos sem qualquer valor.
Arrependo-me de não ter sido mais “leve” em alguns momentos, de não ter só usufruído do momento, sem pensar, sem raciocinar.
Arrependo-me de algumas/muitas coisas, mas nunca de ter dado tudo o que tinha pelo que acreditava, de ter lutado pelo que sentia, de ter lutado por quem queria.
Quando o que sentimos é puro, verdadeiro, nada do que fazemos é inútil ou alvo de arrependimento.
Podemos arrependermo-nos de algo que fizemos ou deixámos de fazer, mas só a morte é que não tem emenda. Enquanto vivemos, temos sempre a hipótese de voltar atrás, de “reparar” o erro, de termos uma segunda oportunidade seja no que for. Normalmente, a vida, as pessoas, as coisas, dão-nos esse segundo “fôlego”.

O que me leva a pensar nos 84 anos que a minha avó faz hoje.
Uau! Tantos anos para reflectir, para fazer o balancete, para “pesar” o bom e o mau de uma vida.
Concerteza, a minha avó pensará nisso. Embora seja uma pessoa alegre, sei que tem as suas tristezas de alma, as suas saudades, mas não sei se terá arrependimentos.
Penso que as decisões difíceis que terá tomado durante a vida, as escolhas face às opções, não a terão traído (pelo menos, completamente).
A vida não foi sempre um mar de rosas para ela, e mesmo se fosse, já se sabe que não há rosa sem espinhos. Como costuma dizer-me uma senhora minha conhecida: a vida é bela nós é que damos cabo dela.
Sem dúvida que as nossas opções tornam a nossa vida melhor ou pior, e raramente nos apercebemos no instante da decisão, ou nos momentos seguintes.
Conforme a Alegoria da Alma de Platão nos exemplifica, temos em nós um cavalo preto e um cavalo branco. A nossa alma, carácter, é o cocheiro. Nós é que direccionamos as coisas, o Caminho. Nós é que temos de controlar o nosso cavalo preto, negro, obscuro. Nós é que temos de escolher o sentido da vida, das escolhas, do que nos fará chegar a qualquer coisa semelhante à felicidade.
No cômputo geral, penso que a Júlia florista comandou bem os seus cavalos, embora só ela o possa confirmar.
Pelo menos, tem uma pequena pónei que a adora!

15 de outubro de 2009

Sem fantasia - Chico e Bethânia



Vem, meu menino vadio, vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia, que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos, vou te envolver nos cabelos,
Vem perder-te em meus braços pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco, vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer que o instante de te ver custou tanto penar
Não vou me arrepender, só vim te convencer que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar, eu quero te contar das chuvas que apanhei
Das noites que varei no escuro a te buscar
Eu quero te mostrar as marcas que ganhei nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus, e agora que cheguei eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus

Estava a tentar evitar colocar este vídeo no meu blog mas foi irresistível.
Eu sei que não tem nada a ver com o resto mas a letra é fantástica e estes dois da mpb são qualquer coisa.
Identifico-me essencialmente na parte cantada pelo Chico.
Entre as noites que varei e as discussões com Deus...

Piedade, meu Deus



Bach - "Erbarme dich, mein Gott" - "Matthäus-Passion" BMV 244 - Magdalena Kozena

Vou começar por gabar-me de ter estado lado a lado com a estátua de Bach, em Leipzig, e ter visitado a casa dele. Na altura, ele não estava em casa.
E também fui visitar a igreja de S. Tomás onde Bach "estreou" a sua "Paixão segundo S. Mateus". Lindíssima!

14 de outubro de 2009

Haar

Ontem, faltou-me a água.
Já me tinha faltado o ar, a alegria, o sono, o apetite... Ontem foi a água.
Liguei para entidade reguladora e atendeu-me uma senhora muito enfadada a dizer um "siiiiiim..." daqueles muito longos, como que a fazer-me entender que eu era a enésima cliente a ligar para dizer o óbvio.
O piquete já vinha a caminho. Óptimo! Se for como o piquete da luz, quando vier a água já não me lembro do meu nome.
Não foi assim mas foi quase. E não se pode chamar água corrente ao que obtive mas água engasgada com os despojos de uma aula de trabalhos manuais, sobre trabalhar no barro, a correr pelo cano.
Bem, lá me lavei à gato (foi mais à suíno mesmo) mas ao chegar à parte da lavagem do couro cabeludo, aí é que a porca torceu o apêndice caudal.
Resolvi que o meu cabelo aguentaria mais uma noite e um dia, apenas tinha de evitar suar.
Hoje, na minha hora de almoço, achei que já chegava de perguntas sobre se tinha colocado gel no cabelo.
Assim, fui à cabeleireira em frente ao meu local de trabalho (à qual nunca tinha ido) e pedi para lavarem e secarem o mais natural possível.
A lavagem correu bem, embora em determinada altura tivesse pensado que a senhora queria lavar a minha alma também. Eu agradecer-lhe-ia mas a única coisa que ia conseguindo era ficar sem escalpe. Mas mariquices à parte, lá fomos nós para o secador.
Bem lhe expliquei que o meu cabelo tem personalidade própria e blá, blá, blá, mas resolveu que queria "enrolar". Depois de estar quase com três escovas de brush, mise ou qualquer coisa assim, na cabeça, chamou uma colega e mostrou-lhe o que é um cabelo liso. Em pouco tempo, já tinha três cabeleireiras a comentarem que nunca tinham visto um cabelo assim tão liso, forte, espetado e sem jeitinhos. Perguntaram-me se eu era portuguesa. E eu, orgulhosa, disse: "não só portuguesa como alfacinha".
Bem, em jeito de conclusão, posso dar uma ideia de como estava se conseguirem visualizar o cabelo esticado, e naturalíssimo, da Aretha Franklin num videoclip do George Michael.
E a seguir tinha de ir trabalhar...

13 de outubro de 2009

Em tua homenagem MLSCMA



Gounod - "Ave Maria" (Kathleen Battle)

Obrigada por tudo o que me ofereceste, por tudo que fizeste por mim, o amor que me deste, a forma como me moldaste.
Sempre contigo/comigo!

Bach - Prelude Cello Suite nº. 1 (Rostropovich)



Mestre Rostropovich, eu vos saúdo!

12 de outubro de 2009

Sinfonia nº 5 - Adagietto - Mahler



Sem comentários. As palavras são irrelevantes com uma melodia que vem da alma.

10 de outubro de 2009

Bilhete da Felicidade



 Já sei qual é a tradução para aquela frase célebre do filme «Casablanca», "We will always have Paris":

"Havemos de ir a Viana"

8 de outubro de 2009

Sara Scuderi - As árvores morrem de pé



Daniel Schmid também deve ter sido criado por três senhoras idosas...
O que ele "realiza" neste documentário sobre Sara Scuderi não se faz. Principalmente, para quem gosta de idosos como eu. Foi até ao lar onde a senhora "residia" e fez com que ela representasse uma ária da Tosca e uma ária do Rigoletto. De seguida, a soprano ouve-se a si própria in illo tempore, em 1928 (na altura com 31 anos). Nesta altura, Sara Scuderi tinha 87 anos e faleceu 3 anos depois.
Bravíssima!

Alison Moyet - "Lamento de Dido" - H. Purcell



Muito obrigada a quem me fez recordar a Alison Moyet da melhor maneira. Esta ária lindíssima de Purcell parece que fica bem de qualquer maneira.

Amália



Lágrima - Amália Rodrigues

Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto

Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar


Sendo eu uma amante de fado, não poderia deixar passar a oportunidade de fazer uma insignificante homenagem à minha fadista preferida.
Alerto para o facto de a Amália ser a minha fadista preferida porque, além de cantar com a alma até mais do que com o coração, era uma mulher inteligente, sagaz, lutadora, audaz, que não se deixava dormir à sombra das centenas de louros já conquistados mas procurava sempre mais e melhor, com uma sede de conhecimento e sentimentos que pareciam jamais satisfeitos; e não por ser a única fadista que conheço, como acontece a algumas centenas de “fãs” de fado.
Parece-me também que procurou o amor durante toda a vida. Poderá ter encontrado paixões mas parece que nunca encontrou o Amor. Ou o Amor nunca a encontrou. Mas isso já são fantasias do meu imaginário.
Este fado que aqui coloco, não será o meu favorito da Amália mas ilustra muitas coisas com as quais me identifico de momento. Muitas, mas não todas.
Na 1ª estrofe, a nossa primeira sensação será que a Amália estaria numa capoeira (penas e mais penas). Com essa parte não me identifico. Nem com a hipótese da capoeira, nem com a hipótese de auto comiseração. Julgo que poderá ser o pior sentimento a termos de nós próprios. Reduz-nos logo a seres fracos, medíocres, e dos fracos não reza a história. Quanto ao “jeito” de lhe querer tanto, os “endireitas” servem para quê?
Na 2ª estrofe, identifico-me com o desespero, com um grande castigo, mas ainda não cheguei à parte de dizer que não quero e não sonho com a pessoa amada porque não tenho dormido o suficiente para isso.
Na 3ª estrofe, estou quase a 100% com a Amália menos a parte do xaile. No meu caso seria mais uma mantinha e adormecer no sofá depois de esgotada de líquidos e já sem saco lacrimal.
Na 4ª e última estrofe, ainda não estou nesse nível. Espero nunca chegar a esse nível de desespero. Se eu amo a pessoa e quero estar com ela, de que me serve a lágrima dela depois de eu estar morta? Mais uma achega à piedade, desta vez à piedade de outrem.
Lágrimas da pessoa amada… Só de alegria!

7 de outubro de 2009

Espera...



Não percebo como é que o tango com letras em espanhol e uma "sanfona" não é uma música pimba. Mas, antes pelo contrário, é uma música sensual. É o fado dos argentinos.

6 de outubro de 2009

"Sarabande" - Handel



Este "Sarabande" soa-me a qual fénix que procura reunir as cinzas para depois renascer. As cinzas ainda estão muito esparsas ao vento. Neste momento, estão mais a entrarem-me para os olhos do que a reunirem-se.
Mas... Se a "Lacrimosa" é uma ode à despedida, o "Sarabande" é um convite à vida, ao ressuscitar da alma.

5 de outubro de 2009

"Lacrimosa" - Requiem - Mozart



Impossível ficar impassível ao "celebrarmos" a missa dos mortos com Mozart nesta Lacrimosa. Quase que também encomendamos a nossa alma ao ouvir este Requiem.
Consegue-se sentir que é uma ode à despedida.
Uma despedida do efémero pelo que nos transcende. Um adeus ao perceptível pelo inatingível. Um abraçar do infinito pelo fim do mortal, do perecível.

E lucevan le stelle - Tosca - Puccini



E luziam as estrelas...
Devem estar a pensar "lá vem esta com mais uma estória de amor desgraçadinho...".
Pois enganam-se. Aproveito esta ária lindíssima da Tosca para vos falar de astronomia.
As estrelas também morrem: "As estrelas de massa mais elevada morrem de uma forma mais espectacular. Depois de passarem por uma fase de supergigantes, morrem com uma explosão catastrófica capaz de produzir tanta luz como uma galáxia inteira. No centro da explosão poder-se-á formar uma estrela de neutrões ou um buraco negro."
Ora aí está. Depois de as mais belas estrelas iluminarem a nossa vida, transformam-se num buraco negro. Sem vida, sem luz, sem calor, apenas a bruma fria.
Fica a recordação de uma luz tão intensa que mal conseguíamos ver o resto do universo, um calor que emanava da alegria que traziam, uma vida que nos fazia sentir uma estrela.

3 de outubro de 2009

Excerto Iniciático

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos de coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Sophia de Melo Breyner Anderson


Tendo a ousadia e a falta de humildade suficiente para pegar neste excerto e comentá-lo, tenho de dizer que, por mais que custe, é tudo verdade.
Como é que queremos fazer de deuses e pensar que as pessoas nos podem pertencer?!
Como é que julgamos que uma pessoa pode ser rotulada como "a minha amada" ou "a minha..." qualquer coisa?! Cada pessoa pertence-se. Podemos sempre amá-la mas nunca conquistá-la como se fosse um feudo.

Nós não possuímos os sentimentos, é algo etéreo. É algo que sentimos, mas não apalpamos, não desenhamos, não fotografamos.
As únicas coisas que podemos reclamar como nossas são as recordações, os momentos vividos.

2 de outubro de 2009

A morte para os tristes é ventura

Quem se vê maltratado e combatido,
Pelas cruéis angústias da indigência.
Quem sofre de inimigos a violência,
Quem geme de tiranos oprimido.

Quem não pode, ultrajado e perseguido,
Achar nos Céus ou nos mortais clemência,
Quem chora finalmente a dura ausência,
De um bem que para sempre está perdido,

Folgará de viver, quando não passa,
Nem um momento em paz, quando a amargura
O coração lhe arranca e despedaça?

Ah! Só deve agradar-lhe a sepultura,
Que a vida para os tristes é desgraça,
A morte para os tristes é ventura.

Bocage


1 de outubro de 2009

Der Anfang

Supostamente, tudo tem um início, um meio e um fim.
Algumas coisas parece que se iniciam a meio e outras que começam no fim.
Seja como for, seja qual for o nosso fado, sejamos bafejados pela sorte da sina ou malfadados pelas aziagas estrelas, cada um de nós tem um percurso a cumprir.
Maior ou menor, com mais ou menos grilhões, com "mais penas ao levantar ou ao deitar", temos de caminhar de cabeça levantada até que o nosso destino seja cumprido.
Este blogue não tem pretensões a nada, não tem tema nem objectivo. A autora escreve e publica o que lhe vai na alma, o que gosta e lhe apetece, critica o que não gosta sem piedade nem concessões, e espera que a meio deste blogue lhe possa mudar o nome.